Este documento apresenta a formação acadêmica e atuação do Professor Mauro Wilton de Sousa nas interfaces entre Comunicação e Educação. Sousa estuda a recepção midiática e o espaço público, analisando como as práticas de recepção refletem questões culturais e de pertencimento social. Seu trabalho aborda a transição da Modernidade para a Pós-Modernidade e como isso influencia as linguagens e a sociedade contemporânea.
Contribuições de Mauro Wilton de Sousa para as interfaces da Comunicação e Educação
1. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - Escola de Comunicações e Artes
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação
Área: Interfaces Sociais da Comunicação
Linha: Educomunicação
Disciplina: Educomunicação – Fundamentos, Áreas e Metodologias
Prof. Dr. Ismar de Oliveira Soares
Mauro Wilton de Sousa e as Interfaces da
Comunicação / Educação
Autoras
Luci Ferraz de Mello
Maria Izabel Leão
Queila Borges
Paula H. Barroso
1. Introdução..................................................................................2
2. Formação Acadêmica / Experiência Profissional..................................2
3. Atuação e Contribuições no Campo de Interfaces da
Comunicação/Educação..................................................................3
3.1 Modernidade e Pós-Modernidade.................................................3
3.2 Estudo da recepção e mediação na atualidade...............................6
3.3 Espaço e tempo......................................................................10
3.4 A escola na atualidade.............................................................15
3.5 Mediações na escola................................................................18
3.6 Identidade e pertencimento......................................................18
3.7 Mediação, Comunicação e Educação...........................................19
3.8 Proposta sobre a interface entre Comunicação e Educação.............20
3.9 Desdobramentos Práticos - Reflexões sobre possíveis abordagens de
práticas educomunicativas........................................................20
4. Bibliografia consultada para elaboração deste trabalho........................27
5. Orientações.................................................................................29
6. Produção literária de Mauro Wilton de Souza.....................................31
7. Anexo 1 - Entrevista com Mauro Wilton............................................37
1
2. Nada de bom será feito sem o envolvimento apaixonado dos indivíduos.”
(Pierre Lévy1)
1) INTRODUÇÃO
A proposta inicial era escrever um breve relato sobre as
possíveis contribuições do Professor Doutor Mauro Wilton de
Sousa para o esclarecimento sobre as interfaces da
conjugação entre a Comunicação e a Educação, em
comemoração aos 10 anos do Núcleo de Comunicação e
Educação da ECA/USP.
Desafio aceito, fomos a campo. Porém, o que parecia ser um pouco mais que um
levantamento de dados, mostrou-se um caminho de descobertas e reflexões.
Realizamos uma entrevista inicial com o objetivo de conhecer um pouco suas
realizações. Acabamos tendo uma aula sobre comunicação, cultura, mediações e
filosofia de vida, entre outras abordagens.
A primeira parte do texto que segue foi elaborado a partir da entrevista realizada
presencialmente, bem como de obras e artigos escritos, citados ou indicados pelo
entrevistado Mauro Wilton de Sousa. Para a segunda parte, optamos por desenvolver
algumas reflexões extras acerca da inter-relação Comunicação / Educação, visando
identificar possíveis contribuições entre os trabalhos de dois grupos de estudos, Grupo
de Estudos sobre Práticas de Recepção Midiática e Núcleo de Comunicação e Educação,
ambos da ECA-USP. Esperamos ter contribuído para mostrar ao menos uma parte
importante, ainda que pequena, da grande colaboração deste docente para o
esclarecimento sobre o tema. Até porque, como ele mesmo diz, definir sua
contribuição em algumas páginas não seria correto e justo. Como ser buscante que é,
prossegue seu caminho refletindo sobre os questionamentos que continuam surgindo,
1
LÉVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência – O futuro do pensamento na era da informática. 15a. ed. São
Paulo: Editora 34, 2006, pág. 131.
2
3. apesar de muitas respostas já terem sido vislumbradas. A nós, só resta dizer: Muito
obrigado!
2) FORMAÇÃO ACADÊMICA / EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL
Mauro Wilton de Sousa é professor-titular e pesquisador no Departamento de Cinema,
Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
Atua principalmente com os seguintes temas: Comunicação, Cotidiano, Cultura,
Recepção e Telenovela. Dedica-se ao estudo da recepção dos meios de comunicação
de massa e ao espaço público, sobretudo no âmbito da pesquisa acadêmica em pós-
graduação, a partir de uma linha mais ampla de análise dos sistemas de significação
em imagem e som na contemporaneidade.
Coordena o Grupo de Estudos sobre Práticas de Recepção Midiática da ECA-USP e é
responsável pela publicação da Revista Novos Olhares, cuja qualidade dos artigos
resultou na compilação de alguns dos melhores textos ali disponibilizados, publicado
como “Recepção Mediática e Espaço Público – Novos Olhares”, por ele organizado.
Graduado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(1968), com especialização em Análise Comportamental de Tarefas pelo Centro
Nacional de Formação Profissional (1974), mestrado em Ciências Sociais pela
Universidade de São Paulo (1972) e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade
de São Paulo (1986) e pós-doutorado pela Universidade Stendhal de Grenoble (1993),
França.
3) ATUAÇÃO E CONTRIBUIÇÕES NO CAMPO DE INTERFACES DA
COMUNICAÇÃO/EDUCAÇÃO
3.1 Modernidade e Pós-Modernidade
Professor da ECA desde 1978, Mauro Wilton de Sousa trabalha há dez anos a relação
da comunicação com a educação a partir do recorte das mediações que fundamentam
a área da recepção. Quanto à contribuição para maiores esclarecimentos da
conjugação Comunicação-Educação, Sousa esclarece que coordena o Grupo de Estudos
sobre Práticas de Recepção Midiática da ECA-USP, cujo eixo fundamental é o estudo da
recepção.
Ele lembra que a recepção é uma categoria que até pouco tempo atrás era entendida
sob o ponto de vista de um apassivamento das consciências através da mídia. Ela era
3
4. estudada a partir do seu próprio nome – recepção - , colocando-se como um elemento
dependente de um processo mais amplo da sociedade, através dos meios. Barbero 2
esclarece essa abordagem ao dizer:
“Entendo modelo mecânico como sendo aquele em que não há nem verdadeiros
atores nem verdadeiros intercâmbios. É o modelo em que comunicar é fazer
chegar uma informação, um significado já pronto, já construído de um pólo a
outro. Nele, a recepção é um ponto de chegada daquilo que já está concluído”.
(Barbero, 2002, pág. 40)
Barbero prossegue alertando para a necessidade de se rever e repensar o processo de
comunicação, no sentido de se desenvolver uma “pesquisa de recepção que leve a uma
explosão do modelo mecânico que, apesar da era eletrônica, continua sendo o modelo
hegemônico dos estudos de comunicação” (Barbero, 2002, pág. 40).
Seu grupo de estudos questiona essa interpretação e busca verificar outras opções de
visualização do processo da recepção, a partir do que chama de “novos olhares”. O
eixo de estudo se dá a partir da área de Comunicação, mas coloca a recepção diante
do espaço público, com as dimensões política e cultural ali presentes. Ou seja,
desenvolve estudos considerando, de um lado, a dimensão política envolvida na
construção do espaço público que é a socialização do processo comunicacional mais
amplo. E, de outro lado, considera também as práticas culturais ou a própria cultura
que no fundo define e redefine o ângulo pelo qual a recepção se dá.
Sousa explica que, em sua essência, trabalha a seguinte triangulação: recepção,
cultura e espaço público. Atualmente, uma das preocupações de seu grupo de estudos
é analisar até que ponto as práticas de recepção podem ser vistas como sendo práticas
de pertencimento dentro da própria sociedade, a partir do contexto de uma sociedade
em crise de pertencimento. Em sua mais recente publicação, Sousa3 discorre sobre
pertencimento dizendo:
“O pertencimento pode se confundir: deixa de ser sentimento para se traduzir
em ação; deixa de ser sentimento para ser prática, e é por esse caminho que a
identidade se revela e o sujeito se torna ator. Ser sujeito não se restringe nem
se confunde com a individualidade, com a definição de “um esforço para unir os
2
MARTIN-BARBERO, Jesus. América Latina e os anos recentes: o estudo da recepção em comunicação
social. In SOUSA, Mauro Wilton. Sujeito – O lado oculto do receptor. 3a. ed. São Paulo: Brasiliense, 2002,
pg. 39-68.
3
SOUSA, Mauro Wilton de. Recepção Mediática e Espaço Público – Novos Olhares. 1a. ed. São Paulo:
Paulinas, 2006.
4
5. desejos e as necessidades pessoais à consciência de pertencer à empresa e à
nação, ou `a face defensiva, à face ofensiva do ser humano” (Sousa, 2006,
pg.235-236)
Uma das questões que embasa seus estudos é exatamente a interpretação das
diferenças de linguagem entre o que se chama de Modernidade e Pós-modernidade.
Entende que os processos comunicacionais devem ser estudados a partir do contexto
social e histórico no qual estão inseridos. Em sua disciplina de pós-graduação, indica
diversos estudiosos com diferentes abordagens para discutir as bases da Modernidade,
que se caracteriza por um projeto de busca da auto-emancipação de uma humanidade
razoável, emancipação esta que se daria por meio de um conjunto de valores e ideais,
a partir do racionalismo, o individualismo e o universalismo. Ao abordar Adorno 4, ele
inicia a discussão sobre o surgimento da televisão como sinônimo de veículo de
comunicação com forte poder de manipulação das massas pelas elites burguesas.
Com o texto de Rouanet5, ele incentiva a reflexão sobre o mal-estar da civilização
anteriormente analisado por Freud6 em um de seus textos, e a insatisfação que as
premissas do Iluminismo e da Modernidade trouxeram ao homem, com seus aspectos
autoritários e absolutos, os quais são amplamente questionados pela sociedade
contemporânea. Em contrapartida, indica autores como Lyotard (1989)7, que
defendem que a sociedade já se encontra no que chama de Pós-Modernidade.
Enquanto a Modernidade prega o que chama de verdade racional, a Pós-Modernidade
parece buscar uma conexão com o lado emocional do Homem.
A Pós-Modernidade parece surgir a partir dos questionamentos sobre esses planos não
concretizados e a conseqüente morte das narrativas da estado político, da família
perfeita, da religião, da sociedade universal, da paz mundial. Ou seja, as utopias não
foram atingidas, o plano maior para todos parece não ter funcionado. Ao contrário,
parece ter aprofundado as diferenças. Então, o homem passa a querer o prazer agora
e não mais amanhã. A partir daí, as complexidades são inúmeras e não cabe seu
aprofundamento neste espaço.
4
ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. A Indústria Cultural - O Iluminismo como Mistificação de
Massa. In LIMA, Luiz Costa. Teoria da Cultura de Massas. 1a.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000, pág.
169-216.
5
ROUANET, Paulo Sergio. Mal-estar da modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, pg. 96-119.
6
FREUD, Sigmund. Mal-estar da Civilização. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas
de Sigmund Freud. 1a. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1996, pg. 73-148.
7
LYOTARD, JEAN-FRANÇOIS . Condição Pós-Moderna, 2a.ed Lisboa: Gradiva, 1989.
5
6. Dentre as transformações pelas quais a sociedade contemporânea tem passado,
destaca-se o que se chama de “fragmentação do modelo da modernidade”, a qual tem
originado o que estudiosos do tema chamam de conjunto de manifestações explícitas
da desigualdade social. Ou seja, nunca antes se observou tanta valorização das
comunidades, nunca se viu tantos movimentos sociais, tanto surgimento de ONGs,
tantas manifestações da “fragmentação do sujeito e do direito de ser dentro da
sociedade”. Como Sousa afirma, “Nunca tivemos tanta necessidade de inclusão por
tantos processos de exclusão”. Busca a base para essa discussão em Hall8, que
ressalta que:
“ O sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estável,
está se tornado fragmentado; composto não de uma única, mas de várias
identidades, algumas vezes contraditórias ou não-
resolvidas.Correspondentemente, as identidades, que compunham as paisagens
sociais “lá fora” e que asseguravam nossa conformidade subjetiva com as
“necessidades” objetivas da cultura, estão entrando em colapso, como resultado
de mudanças estruturais e institucionais” (Hall, 2003, pág. 12).
A questão das linguagens é trabalhada em sua obra “Novas Linguagens”. Nela Sousa 9
delineia os contrastes entre esses dois contextos. “A Modernidade é um projeto social.
É , como diria Foucault, uma episteme. É uma ambiência, um modo de ser, um modo
de sentir a vida baseado num princípio: o fundamental é organizar racionalmente a
própria vida. Modernidade significa ter o futuro como condicionante do presente”
(Sousa, 2003, p. 15). Vive-se a partir de projetos: de estudo, de família, de religião.
Preparar, trabalhar e sofrer hoje, para ganhar o céu amanhã.
Porém, uma coisa é certa: transformações estão ocorrendo. Trata-se de um novo
contexto, onde se identifica uma estrutura social em crise em âmbito mundial, com
manifestações locais. É o processo de globalização da sociedade. Trata-se da
manifestação da desestruturação de um tipo de capitalismo num certo tempo histórico,
fazendo com que a desigualdade atual seja duplamente trabalhada. Ressalta-se o
processo de uma globalização que, a princípio, une, mas que, na verdade, ao invés de
unir, mostra mais ainda a decomposição da sociedade atual.
8
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 7a. ed. São Paulo: DP&A, 2003.
9
SOUSA, Mauro Wilton de. Novas Linguagens. 2a. Ed. São Paulo: Salesianas, 2003.
6
7. 3.2 Estudo da Recepção e Mediação na atualidade
Daí a importância de se estudar a recepção a partir de novos olhares, com destaque
para a questão do sujeito. Sousa lembra que há vários ângulos para se trabalhar essa
questão. O importante é se estabelecer um contexto, para, então, se realizar o estudo.
Logo, se a opção for analisá-lo a partir do lugar que ele tem na construção do saber e
do conhecer, está-se falando de um sujeito que é datado historicamente e que tem
circunstâncias que o redefinem de uma forma racional, como ator, e não
necessariamente um super homem, um super dotado no processo social. Ele deixa de
ser onipotente, onipresente e racional.
Sousa lembra que o homem vive hoje como sempre viveu na história: em busca de
seu próprio lugar. Ele cita Ruiz10 que reflete que o ser humano é dual e que a vida é a
busca no sentido de que diante de fraturas impostas pela vida, sejam elas biológicas,
filosóficas ou religiosas, o desafio do homem é ser sutura, é buscar o encontro dessas
partes.
Explica ainda que esse pensamento não está distante do princípio freudiano do prazer
e do princípio da realidade. O homem está diante do mesmo processo, a partir de
contextos distintos, o qual consiste na permanente luta pela identidade do eu. Esse
tema é trabalhado de forma interessante por Freud11 em “Mal-estar da civilização”.
Nesse texto, Freud analisa a crise que o homem vivencia em função da sua busca pelo
prazer. E joga luz sobre o desafio do homem em lidar com as contradições de viver em
uma sociedade civilizada que procura atender (ou não) a seus anseios individuais,
pessoais e emocionais.
Essa problemática pode ser observada a partir do caos que se constata ao redor do
mundo, através do aumento da violência local, guerras entre países e movimentos
fundamentalistas religiosos, entre outras manifestações. Falando em termos de Brasil,
ao se analisar seus processos político, educacional e cultural de vinte anos atrás e
compará-los com os dias atuais, observa-se que as condições do “eu” são diferentes
em cada época. Sousa destaca: “estou na diáspora, buscando minha identidade nesse
trânsito nomático”.
O estudo dessa dialética é fundamental para se entender os processos
comunicacionais, de se trabalhar a alteridade do eu e do outro. Ou seja, uma coisa sou
10
RUIZ, Carlos Bartolomé. Paradoxos do Imaginário. 2a. Ed. São Leopoldo/RS: Unisinos, 2004.
11
FREUD, Sigmund. Mal-estar da Civilização. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas
de Sigmund Freud. 1a. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1996, pg. 73-148.
7
8. eu comigo, outra sou eu com o outro e uma terceira o outro comigo. As dialéticas de
cá e de lá geram conflito, colocando os homens diante de um emaranhado permanente
de relações de interesses que não são lineares, mas, na verdade, extremamente
contraditórias. Conseqüentemente, observa-se a importância de se analisar a própria
comunicação na relação que ela tem em si mesma com o mundo e com a vida, tanto
quanto com o processo educacional.
Trabalhar esse processo de recepção resulta em necessariamente adentrar o campo
das mediações que fundamentam a recepção, sendo exatamente o processo
educacional uma dessas mediações.
Em relação à preocupação com a conjugação desses dois campos, Comunicação e
Educação, trata-se de um objeto de estudo mais recente. Especificamente na ECA-
USP, o estudo dessa inter-relação se dá a partir da Comunicação, especialmente
porque esta foi a opção feita pela equipe de pesquisadores da escola. Ou seja, a
centralidade do processo está na comunicação, sendo que o recorte na área de
educação se dá como elemento componente da significação social e política de uma
ação comunicacional, o qual envolve necessariamente a educação como um dos
objetos de campo de trabalho. Não se trata apenas do processo comunicacional em si.
E se de um lado o processo educacional está presente na prática de professores numa
instituição como a ECA/USP, por outro lado, ele se torna objeto de estudo enquanto
ação de preocupação quanto aos processos comunicacionais que se estabelecem nos
processos educacionais. Exemplos disso são as eventuais contribuições do Núcleo de
Comunicação e Educação - NCE no sentido de maximizar a participação dos
professores da ECA diante da qualificação de quadros docentes.
A recepção midiática é um dos temas estudados. A respeito dos meios de
comunicação, o ideal seria que houvesse um parâmetro categórico final – único – para
todo esse contexto. Porém, a sociedade não é uma cabeça definida, mas a própria
contradição da vida, da história. Logo, tratar do lugar da comunicação na sociedade
não é tarefa simples. A sociedade tem estruturas que se re-estruturam, tem
configurações que se re-configuram, como elemento central de seu eixo.
Conseqüentemente, o processo comunicacional não tem o que poderia se chamar de
“um chapéu específico para essa cabeça em mutação”. Frente aos vários papéis, o
processo educacional é meio uma linha instrumentalizada. E nesse sentido, o processo
comunicacional é agente de busca de outras coisas, de outros valores. Num momento,
ele é agente de reforço e noutro, agente de mudança.
8
9. O processo comunicacional é uma linguagem contemporânea, uma das mediações
mais importantes da contemporaneidade, o que não significa que ele tenha uma “cor”
única. As mediações são distintas. E atualmente, na centralidade de uma sociedade
globalizada, fragmentada e desigual, o papel mediador dele é crescente. Talvez hoje,
em função da dinâmica da sociedade, o homem esteja valorizando o processo
comunicacional um pouco mais do que valoriza o próprio trabalho, como disse
Habermas12. “O que foi o trabalho ontem enquanto categoria fundamental para
compreensão do mundo (capitalismo industrial), talvez hoje seja o que a comunicação
está desempenhando como mediação”, cita Sousa.
Ao contrário do que Orozco defende em relação às mediações, mais especificamente
em relação à mediação mercantilista, Sousa reflete sobre o aspecto instrumentalista
dessa colocação. Ele prefere dizer que tudo é mediação. Talvez possa ter uma
dimensão mercantil predominante num determinado momento, mas o importante é
buscar quais são as mediações hegemônicas num determinado contexto. Num de seus
estudos ainda em elaboração sobre o significado da pós-modernidade na construção do
marketing contemporâneo, uma das categorias que mais o faz refletir, com grande
carinho, é a dimensão do tempo.
Talvez não seja interessante operacionalizar as mediações de uma forma tão estanque,
predefinindo essas mediações múltiplas. Quase como caixinhas. As mediações são
múltiplas no contexto onde se estiver trabalhando, pois se pressupõe a busca da
hegemonia. Ou seja, ela pode ser mercantil hoje, tecnológica amanhã. Estão num
movimento constante e não estanque como alguns costumam colocar. Elas são uma
pluralidade.
Hoje se fala sobre um processo comunicacional estruturado na identidade líquida, que
mostra que as referências e valores da modernidade já não existem de uma forma tão
incisiva e normativa como ocorria há alguns anos atrás. Essa identidade se designa a
partir da introdução das novas tecnologias. O sujeito não é mais o sujeito Homem,
mas sim os meios de comunicação. As pessoas já têm condições de questionar a
mudança porque elas são a mudança. Trata-se de uma dimensão que conjuga um
pouco de filosofia.
De fato, Hall13 pondera que identidade parece ter-se tornado uma celebração móvel:
12
HABERMAS, J. Mudança Estrutural da Esfera Pública. 2a. Ed. Rio de Janeiro: Biblioteca Tempo
Brasileiro, 2003.
13
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 7a. ed. São Paulo: DP&A, 2003.
9
10. “A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente e uma
fantasia. Ao invés disso, à medida em que os sistemas de significação e
representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma
multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada
uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente” (Hall,
2003, pág. 13).
3.3 Espaço e tempo
Ao se resgatar o tempo e a imagem em Heidegger14 e Santo Agostinho15 (“Tempo: Se
ninguém me perguntar, eu sei; porém, se quiser explicar a quem perguntar, já não
sei!") num contexto mercadológico, há que se refletir cuidadosamente sobre isso.
Quando um aluno analisa o lugar e o tempo na construção da mídia e na construção do
significado desta na vida das pessoas, ele analisa também a sociedade da velocidade.
Isso tem um objetivo que, na prática, não se consegue atingir. É a contradição do
mal-estar, pois o homem não consegue acompanhar o que ele mesmo busca. Então,
fica clara a importância de mediações como esta.
Prefere buscar menos a compreensão dos fatos e objetos nos processos. Ele vê a
mediação não no contexto de um tersus, de estar entre o homem e a mídia, entre o eu
e o outro. “Seria como se quisesse chegar ao meu pai pela minha mãe. Ela, então,
seria um tersus”, diz Sousa. Apesar de admitir essa possibilidade, ele não trabalha
esse conceito. Prefere atuar mais na linha de Williams 16 e Barbero17, sobre a mediação
enquanto diferencial nas relações e que explica como diferença a própria relação.
Williams (1992)18 destaca que, em função de suas formas mais atuantes e recentes, o
termo “cultura” deve ser analisado enquanto uma convergência de interesses e
métodos os mais diversos, buscando esclarecer seus diversos significados e as formas
como influenciam nas mediações dos processos comunicacionais.
E Barbero19 reprova o pensamento de Adorno20 e da Escola Frankfurtiana, que reduzia
os meios a ferramentas moralizadas a partir de seu uso: “...seriam maus nas mãos das
14
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. 15a. Ed. São Paulo: Vozes/Universidade São Francisco, 2005.
15
AGOSTINHO, Bispo de Hipona. Confissões. 10a. Ed. São Paulo: Paulus, 1984.
16
WILLIAMS, Raymond. Cultura. 2a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
17
MARTIN-BARBERO, Jesus. Dos Meios às Mediações – Comunicação, Cultura e Hegemonia. 2a. ed. Rio
de Janeiro: Editora UFRJ, 2003.
18
WILLIAMS, Raymond. Cultura. 2a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
19
MARTIN-BARBERO, Jesus. Dos Meios às Mediações – Comunicação, Cultura e Hegemonia. 2a. ed. Rio
de Janeiro: Editora UFRJ, 2003.
20
ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. A Indústria Cultural - O Iluminismo como Mistificação de
Massa. In LIMA, Luiz Costa. Teoria da Cultura de Massas. 1a.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000, pág.
169-216.
10
11. oligarquias reacionárias, mas ficariam bons no dia em que o proletariado assumisse
seu controle” (Barbero, 2003, pg. 291). Ele aponta a cultura como um dos grandes
mediadores junto aos processos comunicacionais, a partir de estudos realizados na
América Latina. Reconhece que:
“os meios de comunicação constituem hoje espaços-chave de condensação e
intersecção de múltiplas redes de poder e de produção cultural, mas também
alertar, ao mesmo tempo, contra o pensamento único que legitima a idéia de
que a tecnologia é hoje o “grande mediador” entre as pessoas e o mundo,
quando o que a tecnologia medeia hoje, de modo mais intenso e acelerado, é a
transformação da sociedade em mercado, e deste em principal agenciador da
mundialização” (Barbero, 2003, pg. 20).
Sousa ilustra essa opção da seguinte forma: suponha um casal com dois filhos – um
casal de adolescentes – frente a uma televisão, assistindo a um programa qualquer. O
objetivo é estudar se o fato de se ter duas mulheres e dois homens, há diferenças
quanto ao modo de ler a TV. Não é a TV enquanto programa que importa, mas o
conhecimento sobre qual a mediação que a sustenta. Essa mediação pode ser o
gênero, a idade, a formação cultural, entre outras variáveis.
Reforça que a mediação fundamental não está necessariamente na TV e no programa
ao qual se está assistindo. Busca saber se o fato do telespectador ser mulher ou ser
homem, por exemplo, é uma mediação que distingue a forma como o modo de ler a TV
ocorre, se esse é o diferencial a partir desse olhar. Num momento, a mediação que
sustenta o modo de ler a TV pode ser o sexo. E no outro, pode ser a formação cultural,
a idade.
Esse aspecto pode ser observado em diversos cenários, inclusive na própria sala de
aula. Ao analisar a questão da mediação de uma mesma situação aplicada a duas
turmas aparentemente similares, pode-se observar aspectos interessantes desse
processo de mediação. Apresentar, por exemplo, o filme “Muito Além do Jardim” para
uma classe mista de alunos de audiovisual e para outra composta por oitenta por cento
de mulheres sem formação em audiovisual, pode resultar em informações
interessantes sobre o tema. De fato, a primeira classe, em função da formação
educacional em audiovisual analisa o filme do ponto de vista estético da produção
cinematográfica, a questão dos planos, do roteiro, da imagem e do próprio
desempenho dos atores. Porém, não se atentaram quanto ao conteúdo em si da
11
12. película, aspecto esse que mais chamou a atenção da segunda classe, formada por
uma maioria de moças.
Trata-se de uma conjugação de mediações, das referências culturais de cada grupo e a
influência que cada uma delas tem nos processos de mediações. É delicado generalizar
como se deu o processo de comunicação para esses grupos, pois se observa que o
agente estimulador para um é diferente do reforço para o outro.
A partir dessas constatações, um outro trabalho que está sendo desenvolvido pelo
grupo de estudos coordenado por Sousa é sobre o processo comunicacional cultural no
processo migratório. Ou seja, quando uma pessoa decide mudar de país, qual a
mediação dos meios no estímulo para a migração? Qual o lugar da mídia para silenciar
sobre seu país de origem ou na constituição desse novo ser que vive as duas culturas?
E isso tem que ser trabalhado sob as múltiplas mediações, isto é, se foi solteiro, com
família, se tem nível superior, se foi empregado ou em busca de um emprego. Enfim,
há uma série de mediações possíveis.
Sousa reflete que optou por trabalhar com Comunicação e Ciências Humanas
exatamente pelo aspecto de mudança constante que estes dois campos apresentam.
“Do contrário, seria mais fácil e direto, como em Ciências Exatas. O grande desafio é
buscar sabendo que não tenho respostas fixas, sabendo que as respostas são
provisórias. Trata-se de assumir que o estudioso do campo da Comunicação é um
eterno caminhante que busca sempre, mesmo sabendo que nunca irá encontrar tudo o
que busca”, destaca Sousa.
Falar de mediações e da conjugação da comunicação e da educação, é transitar dentro
de uma dinâmica acontecendo e não de um resultado obtido. É importante não fazer
da comunicação um valor bíblico ou normativo. Trata-se da relatividade do saber de
cada um.
Apesar de alguns autores, como Barbero21, enxergarem a mediação na
contemporaneidade como algo novo, Sousa destaca que como objeto ela já existe
historicamente. Todo o processo social da comunicação é social mediado, isso já vem
de longe. O conceito de mediação é estruturante no pensamento marxista. Ele está
sendo incorporado na contemporaneidade para elucidar melhor as variáveis que
intervêm no processo de construção do resultado de uma vida. Nesse sentido, pode
estar ocorrendo, inclusive, uma maximização de seu uso, quase que uma centralização
21
MARTIN-BARBERO, Jesus. Dos Meios às Mediações – Comunicação, Cultura e Hegemonia. 2a. ed. Rio
de Janeiro: Editora UFRJ, 2003.
12
13. do seu significado de fato. Porém, talvez esse processo não se dê exatamente da
forma como o termo vem assumindo, como se fosse a chave que desbarata todas as
coisas.
Sousa reflete que talvez, tanto Barbero como outros, em função da própria dificuldade
de conceituar e operacionalizar a mediação, acabem por mostrar um caminho mais
voltado ao operacional imediato do que do reflexo. Trata-se da instrumentalização, de
buscar maneiras de arranjar a mediação através da utilização de mídias como rádio,
televisão e blogs. A mediação é tratada muitas vezes como um objeto, um
instrumento, o que é incorreto, pois ela é subjetiva, é fluída. Ela reflete a tentativa de
se descobrir como um conjunto de variáveis pode intervir na definição de um processo.
Sousa cita como exemplo dessa subjetividade um trabalho muito interessante de
Salete Talk, em Pernambuco. Foi um estudo sobre quais eram as mediações que
sustentavam as lutas do poder nos canaviais. Ela constatou que a mediação não
estava nos objetos e estratégias, mas naquela relação anterior que sustentava esses
objetos e estratégias, na dimensão de poder, por exemplo.
Sousa acredita que estudar o poder da tecnologia num determinado contexto é muito
mais importante do que estudar a tecnologia. Lembra que há muita coisa da mediação
que é apenas a visibilidade de um processo que não mostra sua cara invisível. E
destaca os vários níveis de influência que a cultura pode ter sobre contextos distintos.
Ou seja, uma mesma temática pode ser tratada junto a diferentes culturas,
apresentando formas diversas de atuação das mediações. Um dos aspectos
fundamentais é descobrir quais os interesses políticos e culturais que motivam o
processo.
O mercado parece fazer uso desse contexto já há algum tempo, através de campanhas
de publicidade. Um exemplo é a recente campanha veiculada pelo Citibank que
apresenta como uma das frases de chamada “Crie filhos e não herdeiros”. Observe
qual o valor que sustenta essa publicidade, qual seu contexto de tempo e de espaço.
O contexto histórico atual apresenta um processo de dominação segundo valores que
não são necessariamente os de ontem, nem necessariamente para todas as categorias.
O objetivo, então, e descobrir quais as mediações que interferem na aceitação do
público. Trata-se de um duplo processo: o das mediações da produção e o das
mediações do consumo. É importante se observar a aderência ou não às fases dele.
Sousa reflete também sobre a abordagem dos estudos atuais sobre recepção,
considerando que atualmente ela é entendida como simples audiência. Aponta que
13
14. muitos a analisam ainda como o próprio ato de se expor fisicamente à materialidade
midiática e acabam por se focar nos veículos, quando na verdade o seu estudo está
ligado diretamente ao processo que justifica a materialidade da relação.
Sousa pondera que talvez outras escolas e centros de pesquisa no Brasil podem estar
indo mais rápido que a equipe da ECA – Escola de Comunicações e Artes nos estudos
sobre essa temática, tanto em termos de tempo como de qualidade. Porém, a ECA
apresenta algumas referências realmente interessantes a serem analisadas.
Complementa defendendo que o próprio termo “recepção” tem ajudado muito à não
compreensão do que de fato ele é. Ao invés de ser um elemento de estímulo, tem sido
um elemento de barreira, pois no conjunto da academia como da sociedade observa-se
ainda uma sociedade positivista e funcionalista. Daí o preconceito existente em relação
ao tema. A recepção é parte do todo, mas o desafio é conhecer e entender qual o todo
que justifica essa parte.
Seu estudo passa ainda pelo entendimento formal que as pessoas têm de que o
importante é consumir e não necessariamente conhecer os condicionantes de
consumo. Há grandes controvérsias de abordagem entre quem pesquisa o tema de
forma conceitual e teórica e quem o faz na prática, pois há uma dificuldade grande de
se associar a prática com o conceito. Apesar de sua importância, essa área de estudo
ainda não foi enraizada suficientemente, pois a questão do receptor é realmente
incômoda no estudo. Sousa se questiona se isso ocorre também porque a forma como
ela será recebida demonstra também o poder que se tem inclusive como emissor.
A recepção é estudada atualmente a partir do contexto de uma relação de troca que
não tem dois lados. Sousa relembra o “eu e o outro freudiano”. Ou seja, é como se
houvesse apenas um lado da questão, quando na verdade não se pode olhar a partir
de um ou de outro, mas para relação que os dois têm. De acordo com Freud22, é
inerente ao ser humano, olhar para as coisas a partir de si mesmo. Sousa lembra que,
como pesquisador, não se pode olhar apenas do eu para o outro ou do outro para o eu,
mas para a relação dos dois com o objeto.
Sousa pondera que a causa dessa dificuldade pode estar ligada à descrição da
objetividade e da subjetividade. Barbero23 fala da verdade que afeta o homem. Ou
seja, o homem só busca como objeto de estudo aquilo que tem a ver com ele, com a
22
FREUD, Sigmund. Mal-estar da Civilização.
23
MARTIN-BARBERO, Jesus. América Latina e os anos recentes: o estudo da recepção em comunicação
social. In SOUSA, Mauro Wilton. Sujeito – O lado oculto do receptor. 3a. ed. São Paulo: Brasiliense, 2002,
pg. 39-68.
14
15. sua vontade. Ao se escolher, por exemplo, o objeto que se toma como recorte a partir
do campo da comunicação enquanto campo disciplinar, ele é tendencialmente do real,
do objetivo, mas também é razoavelmente do subjetivo. Neste aspecto, Sousa destaca
que “é o meu olhar sobre o mundo, são minhas referências. Quando olho o mundo, eu
o faço a partir de um lugar extremamente meu. ... A verdade que busco na pesquisa é
a que busco para mim”. É exatamente aí que reside a subjetividade, a partir das
referências internas de cada indivíduo.
Sousa filosofa que a temática é interessante exatamente por estar frente a olhares
distintos: “meu olhar não é único e, para eu admitir o seu olhar, ele tanto poder ser
um incômodo como pode ser um reforço”. Trata-se do conflito da sutura. O homem é
um ser “costurante” por natureza.
3.4 A escola na atualidade
Há, contudo, um contexto maior a ser explorado aqui, o qual se mostra a partir das
transformações que estão sendo vivenciadas na sociedade contemporânea.
Transformações essas que têm influenciado diretamente esses processos
comunicacionais junto à área educacional especificamente. Trata-se dos
questionamentos sobre os aspectos da modernidade e da pós-modernidade
propriamente ditas e os seus reflexos sobre os processos comunicacionais identificados
nos processos educacionais.
A escola no formato que conhecemos se originou a partir do Iluminismo, sendo que se
caracteriza por aspectos que definem a modernidade. “Por princípio, trata-se de uma
instituição laica e universal, baseada no saber de origem científica e racional”. (Sousa,
2006, p. 129). Ao se observar a área educacional a partir desse contexto de
modernidade, constata-se que essa é organizada por fases e etapas. Cada etapa
pressupõe a preparação para a etapa seguinte, sendo que não se observa uma
aplicabilidade imediata do conteúdo das mesmas: “...a escola traz consigo a promessa
moderna do progresso, da ascensão e do desenvolvimento social e de um futuro
melhor, ainda que não seja capaz de garantir isso” (Sousa, 2006, p. 129).
Um outro aspecto interessante diz respeito à questão da obrigatoriedade. Ou seja, o
prazer de aprender é quase que vedado aos alunos, sendo que a motivação escolar é
baseada em disciplina e repressão, sem uma preocupação quanto à qualidade do
envolvimento do aluno nesse processo.
Com as transformações recentes dos modelos da sociedade para o dito formato da
pós-modernidade, o próprio aluno apresenta feições diversas daquelas que aceitavam
15
16. as características educacionais acima expostas: “O jovem pós-moderno quer aplicar
seus conhecimentos no ato, quer ter relação mais emotiva com a matéria, quer que a
escola seja espaço de troca, de prazer, de relacionamento interpessoal” (Sousa, 2006,
pg. 130). Sousa24 complementa, apontando para o imediatismo hoje observado nos
alunos: “Por isso, rejeita aquilo que não se aplica de imediato e não crê nas
possibilidades de transformação prometidas pela escola num período de tempo
bastante longo” (Sousa, 2006, p. 130).
A fim de esclarecer um pouco sobre as razões pelas quais a pós-modernidade vem se
construindo com o advento das novas tecnologias que trazem para o cotidiano das
pessoas uma avalanche de informações, imagens, sons transformando todas as formas
de se aprender e conhecer, Castells25cita Françoise Sabbah, o qual avalia as novas
tendências da mídia:
“... a nova mídia determina uma audiência segmentada, diferenciada que,
embora maciça em termos de números, já não é uma audiência de massa em
termos de simultaneidade e uniformidade da mensagem recebida. A nova mídia
não é mais mídia de massa no sentido tradicional do envio de um número
limitado de mensagens a uma audiência homogênea de massa. Devido à
multiplicidade de mensagens e fontes, a própria audiência torna-se mais
seletiva. A audiência visada tende a escolher suas mensagens, assim
aprofundando sua segmentação, intensificando o relacionamento individual
entre o emissor e o receptor” (Castells, 2003, pg. 242)..
Essa postura parece reforçar a idéia de que houve uma mudança de padrão quanto à
forma de lidar com o aspecto tempo e espaço. Anteriormente falava-se em estudar e
se preparar para que esse conteúdo fosse aplicado num futuro (próximo ou distante).
Atualmente o aluno busca um conteúdo a ser aplicado de maneira mais imediata, hoje.
Por uma série de fatores econômicos, sociais, culturais, políticos, e até frustrações, as
pessoas parecem não querer mais esperar pelo amanhã. Elas querem fazer aqui e
agora. “No mundo pós-moderno não há tempo para o adiamento, seja dos resultados,
seja da emoção” (Sousa, 2006, p. 130).
Vale refletir se não seria um possível exemplo de atendimento a essa nova postura a
própria formatação e reconhecimento, pelo MEC, dos novos Cursos de Tecnologia no
Brasil. Com duração de dois anos, apresentam como uma de suas premissas básicas
24
SOUSA, Mauro Wilton. Recepção Mediática e Espaço Público – Novos Olhares. 1a. Ed. São Paulo:
Paulinas, 2006.
25
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. 1a. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003.
16
17. que os educadores recrutados para ministrar disciplinas estejam ligados ao dia-a-dia
do mundo do trabalho e atentos às suas rápidas e intensas modificações. A finalidade
seria exatamente levar aos alunos exemplos reais e atuais da aplicação das teorias
sobre as quais os alunos estariam estudando. Porém, essa é uma outra discussão.
Em contraste com o aspecto autoritário e absolutista da modernidade, Sousa26 observa
que o aluno não mais aceita a chamada relação vertical com seu educador e até
desafia essa autoridade. E destaca que esse cenário é derivado de um contexto sócio-
histórico, o qual deve ser visto como “uma das mediações mais atuantes nas relações
efetivadas na sala de aula e nas relações educacionais, em geral, seja familiar,
comunitária ou religiosa. Compreender as razões do conflito e entender os significados
dessa mediação, no entanto, pode tornar a atividade mais fácil e adequada ao mundo
contemporâneo” (Sousa, 2006, pg. 130). A facilitação e adequação dos processos
educacionais ao mundo contemporâneo passam exatamente pela compreensão das
razões desse conflito e dos significados dessa mediação.
Um outro aspecto importante a se considerar diz respeito à linguagem. Voltando ao
Iluminismo e seus aspectos racionais, constata-se que a escrita se mostrava como a
tecnologia de produção do conhecimento. A partir desse contexto de “verdade”
racional, pode-se observar que a escola rejeita outras formas de aquisição do
conhecimento que não seja a escrita racional. Com o esclarecimento desse contexto,
entende-se a resistência quanto à utilização da imagem e outras maneiras mais lúdicas
e intuitivas no processo de apreensão do saber.
O aparecimento e a utilização das tecnologias do audiovisual como espaço de prazer e
também de aprendizagem contribuiu fortemente para que esse contexto histórico se
modificasse. O desenvolvimento das tecnologias de audiovisual, como TV e rádio,
possibilitou que essas se integrassem ao cotidiano das pessoas, contribuindo
imensamente para a produção de novas experiências de viver, sentir e saber.
Sousa (2006) aponta Paulo Freire como um dos educadores desse novo contexto, mais
sensível a essas modificações, que defendia “...uma maior ampliação do diálogo com
essas novas fontes de informação, lazer e conhecimento ...” (Sousa, 2006, pg. 131).
Esses fatos fizeram com que a comunidade escolar buscasse apreender novos modelos
de aquisição e construção de saberes, bem como de respeitar a multiplicidade de
identidades, as quais estavam subjugadas pela “hegemonia da racionalidade moderna”
(Sousa, 2006)
26
SOUSA, Mauro Wilton de. Recepção Mediática e Espaço Público – Novos Olhares. 1a. Ed. São Paulo:
Paulinas, 2006.
17
18. Sobre o estudo do processo comunicacional que se desenvolve dentro do processo
educacional propriamente dito, trata-se exatamente de compreender a busca dessa
sutura através do processo de troca de conhecimentos de valores subentendidos, tanto
quanto dos meios em que estão – e aqui é importante separar o processo da
comunicação dos meios – e o seu resultante, que consiste nos dois trabalhando juntos.
Ao final, são esses os parâmetros que sustentam os dois processos como distintos e
iguais.
3.5 Mediações na escola
O estudo da comunicação e das mediações a partir do contexto cultural dentro da
escola apresenta-se como um desafio interessante no Brasil. Os professores
apresentam formações muito diferentes entre si, sendo que há alguns com uma
formação excelente e outros com formação básica. Não se pode ter um olhar único,
pois há os processos de mediação e o que há por trás disso. Ainda que utilizem
mediações tecnológicas, há a influência cultural por trás disso, sendo que o resultado
deveria ser o estudo de toda essa interação.
Contudo, alguns pesquisadores têm buscado chegar a um produto pronto, com tudo
igual para todos. Sousa alerta que ainda se parte do pressuposto que o professor só
teve uma orientação, a formação básica, e que ficaram parados no tempo. Não se
considera que esse professor, como o empresário ou mesmo seu próprio aluno,
também acessa a internet e busca novas informações e atualizações, até mesmo por
ser instigado por seu aluno. Como analisar esse contexto de mediação?
3.6 Identidade e Pertencimento
E esse questionamento remete novamente à questão da identidade, sobre como pode
o homem se tornar o que é ou o que gostaria de ser numa pluralidade de
circunstâncias como essas. Observa-se que a norma social não necessariamente
existe, não há referências paternas ou maternas. No caso específico do Brasil, por
27
exemplo, Faoro analisa a formação cultural do seu povo que diz que o pai é o
Estado, ou seja, é uma formação patriarcal. Porém, o que se vê é um modelo de
família patriarcal onde se constata a crise do pai real e do pai político, que se mostra
como um pai ausente, para não dizer morto ou falido. Constata-se o vazio do povo
frente a essa crise e a conseqüente busca por possíveis heróis. Essa crise da
27
FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder – Formação do patronato político brasileiro. 3a. Ed. São Paulo:
Globo, 2001.
18
19. identidade remete à crise do pertencimento, na qual o homem busca onde se segurar
nessa sociedade, onde o pai desejado já não existe e o pai real já se foi.
Em termos de conjunto de sociedade, é a própria definição do fim que foi colocada
para os homens em geral, é a sociedade da promessa na qual se vive hoje. Como dito
anteriormente sobre a modernidade, a sociedade prometeu a liberdade, igualdade e
fraternidade. Ontem a Igreja dizia que o homem precisava se salvar e que Deus viria
para salvá-lo. Trata-se da relação indivíduo e Deus. Quando esse discurso muda para a
vontade de emancipar, do “vamos estar juntos, trabalhar juntos”, tem-se o surgimento
da sociedade das promessas, onde o consumismo é a visibilidades dessas promessas
(“Tenha e seja um vitorioso”).
As pessoas têm a concepção de que são livres, mas, na verdade, estão dentro de uma
prisão. Trata-se de um paradoxo, mas a liberdade só se dá quanto mais o homem está
ligado a normas e valores.
3.7 Mediação, Comunicação e Educação
Então, Sousa lembra que ao se questionar sobre o lugar da mídia, é preciso que se
identifique qual pai se busca e qual a relação desse homem com ele, pois o processo
comunicacional é tangenciado pelas mediações que fundamentam a autoridade na
sociedade.
Daí ser delicada a relação da comunicação na educação. Corre-se o risco de ficar no
superficial, quando, na verdade, estudar a comunicação na educação é buscar a
própria compreensão da educação, sua visão de mundo e de sociedade. Atualmente,
ao se falar de comunicação na educação, fala-se muito sobre a utilização dos veículos,
da tecnologia. Sousa lembra que a educação vem antes disso, que se deveria estudar
a comunicação na própria proporção de que o processo da educação é de compreensão
de vida e de mundo.
Trata-se também de usar o rádio, o cinema, a TV. Ao se compreender a relação do eu
e do outro, eu e outro sistema, eu e outro enquanto mídia, já se está comunicando.
Não se trata apenas de dominar tecnologias ou a invisibilidade dos interesses que
sustentam isso. De “endeusar” ou “endemoniar” a mídia, mas de realmente
compreender o papel da mídia no cotidiano das pessoas, da escola e da família.
É preciso que negocie com a mídia como se negocia com a vida, como apontado por
Barbero28. Sousa exemplifica que quando se está frente à TV e alguém pergunta o que
28
MARTIN-BARBERO, Jesus. América Latina e os anos recentes: o estudo da recepção em comunicação
social. In SOUSA, Mauro Wilton. Sujeito, o lado oculto do receptor. 3a. ed. São Paulo: Brasiliense, 2002, pg.
19
20. se achou sobre um determinado programa quanto à sua intenção de educar o
telespectador, trata-se de um contexto mais complexo. Para se ler a mídia, é preciso
contextualizar, entender a vida, a sociedade e inclusive o lugar da mídia nesse cenário.
Sousa ressalta seus temores sobre o estudo da relação da comunicação com a
educação, pois, dependendo do contexto no qual se baseia para se fazer a análise, o
resultado obtido pode ser uma visão parcial. Não é possível enxergar o intercâmbio
entre os dois campos se se analisar a área educacional a partir dos valores da vida,
estruturantes, e deixar a análise dos valores acidentais, circunstanciais, contextuais,
de entretenimento, para o âmbito comunicacional.
3.8 Proposta sobre a interface entre Comunicação e Educação
Sousa se considera um ser buscante, sem propostas definitivas sobre como trabalhar a
comunicação na educação. Busca entender o encontro dos dois campos, ao participar
de bancas na faculdade de educação que discute comunicação e bancas na faculdade
de comunicação que discutem educação. Sob esse ponto de vista, Sousa se sente
como um tersus, um mediador.
O entrevistado considera que o trabalho da comunicação seria o de mostrar a
circunstancialidade da sociedade na construção desse eu. Ele defende o estudo dos
processos comunicacionais na educação como tentativa de ajudar a própria
comunicação a entender o processo que sustenta a educação. Ou seja, estudar as
relações entre o eu e o outro, mostrando as dimensões da interatividade da
contemporaneidade para entender mais os processos.
3.9 Desdobramentos Práticos - Reflexões sobre possíveis abordagens de
práticas educomunicativas
Como destacado anteriormente, Adorno29, ao discorrer sobre a influência dos veículos
de comunicação, especialmente o rádio e a televisão, mostrou-os como poderosas
ferramentas de manipulação da burguesia junto às massas, no sentido de incentivá-las
ao consumo em excesso, entre outras finalidades. Essa análise mostrou o lado elitista
desses processos comunicacionais, gerando quase como que um estigma quanto ao
acesso dessas massas a esses veículos em relação á produção de seus conteúdos.
39-68.
29
ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. O Iluminismo como Mistificação de Massa. 7a. Ed. São Paulo:
Paz e Terra, 2000.
20
21. Por outro lado, Bourdieu30 destaca o perfil do modelo de escola defendido na
modernidade, o qual era considerado reprodutivista. Ou seja, o processo de
aprendizagem se resumia em mera transmissão do conhecimento. A aprendizagem não
consegue “ser espaço de vida, de referências nem para criar e negociar a autonomia
da vida” (Sousa, 2003, pg. 25).
Em função das características apontadas por Adorno31 em relação aos meios de
comunicação e do formato educacional da modernidade apontado por Bourdieu32,
pode-se perceber a razão de alguns estudiosos dizerem que os educadores propõem
uma educação inovadora, mas não chegam até a comunicação porque esta pertence à
burguesia.
Ao longo das últimas décadas, os esforços da UNESCO em estudar (e até minimizar) as
influências do Primeiro sobre o Terceiro Mundo que se dá através da educação e dos
meios de informação, e as possibilidades abertas pela democratização das relações
políticas (principalmente na América Latina), reforçaram os estudos sobre a relação
Educação-Comunicação, com base na educação para os meios, no uso das tecnologias
da informação do ensino e o emprego das comunicações e de suas tecnologias na
defesa dos interesses das comunidades.
Paralelo a esse movimento, pôde-se observar o que vários estudiosos defensores da
modernidade tardia ou da pós-modernidade apontam as mudanças na forma de
aprendizagem por parte dos educandos junto às instituições de ensino. A
transformação da forma de ver e pensar o mundo a partir de sua constante exposição
especialmente aos diversos veículos de comunicação, tornou-os mais imediatistas.
Como conseqüência dessas mudanças de modelos, intensificaram-se os estudos sobre
recepção, o que resultou na constatação da utilização cada vez maior desses veículos
de comunicação como mediador dos processos comunicacionais, inclusive naqueles
voltados ao processo educacional (Sousa, 2003).
Pesquisa desenvolvida pela equipe do NCE- Núcleo de Comunicação e Educação da USP
– Universidade de São Paulo durante os anos de 1997 a 1999, constatou o surgimento
de um novo campo do saber: a inter-relação Comunicação-Educação, atualmente
também chamada por alguns estudiosos de Educomunicação. Exatamente em função
dessas mudanças paradigmáticas, o campo vem conquistando autonomia e apresenta
30
BOURDIEU, Pierre; CATANI, Afrânio Mendes. Escritos de Educação. 3a. ed. São Paulo: Vozes, 2001.
31
ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. O Iluminismo como Mistificação de Massa. 7a. Ed. São Paulo:
Paz e Terra, 2000.
32
BOURDIEU, Pierre; CATANI, Afrânio Mendes. Escritos de Educação. 3a. ed. São Paulo: Vozes, 2001.
21
22. grande agilidade no processo de consolidação (Soares, 1999)33. E no que diz respeito à
intervenção social, a educomunicação aponta para a existência de quatro áreas
concretas de intervenção: educação para a comunicação; mediação tecnológica na
educação; gestão comunicativa; e reflexão epistemológica.
Soares34 afirma que a Educomunicação consiste num campo de convergência, não
apenas das áreas de comunicação e educação, mas de todas as áreas das ciências
humanas, e que tem na busca da cidadania e participação a sua força. Ele comenta
sobre os diferentes visões da educação tradicional, que olha para essa área como algo
que, às vezes, pode estar ameaçando a sua ortodoxia, e da comunicação, que olha
para esse campo como algo pobre, de gente que não está no mercado. E lembra que o
objetivo desse novo campo não é ocupar o lugar dos campos conhecidos hoje como de
Educação e da Comunicação. Sua finalidade é estudar as interfaces entre eles, no
sentido de contribuir para a identificação de novas metodologias de ensino, a partir da
utilização de veículos de comunicação, aos quais esses alunos já têm acesso, como
receptores passivos e ativos.
Lévy35 define interface para além do seu conceito específico em informática ou
química, esclarecendo que sua noção remete a “operações de tradução, de
estabelecimento de contato entre meios heterogêneos. Lembra ao mesmo tempo a
comunicação (ou o transporte) e os processo transformadores necessários ao sucesso
da transmissão” (Lévy, 2006, pg. 176).
E complementa dizendo que:
“Cada nova interface transforma a eficácia e a significação das interfaces
precedentes. É sempre questão de conexões, de re-interpretações, de traduções
em um mundo coagulado, misturado, cosmopolita, opaco, onde nenhum efeito,
nenhuma mensagem pode propagar-se magicamente nas trajetórias lisas da
inércia, mas deve, pelo contrário, passar pelas torções, transmutações e
reescritas das interfaces”. (Lévy, 2006, pg. 176).
Os resultados obtidos com a pesquisa desenvolvida pelo NCE trouxeram rico conteúdo
e importantes sinalizações sobre as possibilidades de aprofundamento em relação às
questões abordadas. Essa inter-relação Comunicação-Educação já iniciou o que o
33
SOARES, Ismar de Oliveira. Comunicação/Educação, a emergência de um novo campo e o perfil de seus
profissionais, in Contato, Brasília, Ano I, N.I, jan/mar, 1999, pg. 19-74.
34
SOARES, Ismar de Oliveira. Comunicação/Educação, a emergência de um novo campo e o perfil de seus
profissionais, in Contato, Brasília, Ano I, N.I, jan/mar, 1999, pg. 19-74.
35
LÉVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência. 15a. ed. São Paulo: Editora 34, 2006.
22
23. estudioso denomina de um “novo paradigma discursivo transverso”, composto por
conceitos transdisciplinares com novas categorias analíticas” (Soares, 1999).
Fala-se em transversalidade, pois toda a ação educativa é perpassada pela
comunicação. Trata-se de um processo dialógico na medida que reconhece o potencial
de contribuição de todos que estão no processo, ou seja, aluno, professor e meios,
entre outros.
Como ressaltado anteriormente, as “mudanças nas práticas de Educação para a
Comunicação na América-Latina decorrem de uma revisão conceitual e programática à
luz da denominada ‘teoria das mediações, segundo a qual tanto os media exercem
uma função de intermediação na produção da cultura, quanto o próprio fenômeno da
recepção é mediado por instâncias da sociedade tais como a família, a escola, os
grupos de amizade, a Igreja, entre tantas outras” (Soares, 1999). Logo, ao se
confirmar a existência de outras influências que não apenas a influência direta dos
meios sobre seus usuários, admite-se a necessidade de se conhecer também a
influência que os aspectos culturais do receptor exercem sobre as atitudes dos
mesmos e, conseqüentemente, sobre os resultados finais dos processos
educomunicativos.
Sociólogo espanhol atualmente radicado na Colômbia, Barbero36 traz importante
contribuição a essa temática ao vislumbrar uma nova mudança nas perspectivas de
análise de campo, com consistente desenvolvimento das pesquisas sobre a recepção,
indicando como o público – já não tão passivo e domesticável como descrito
anteriormente – interage com a mensagem, participando ativamente de um mesmo
movimento cultural, quando de sua interação com os meios. Começa-se a perceber
uma maior conscientização e uma certa reflexão quanto aos conteúdos apresentados
nos meios, por parte dos receptores.
Indo de encontro a esses resultados, Barbero37 destaca as mudanças nos territórios, o
desordenamento dos saberes e a re-configuração da cidadania, observados a partir
dessa inter-relação da comunicação / educação, os quais vão conectar as
transformações dos modos de estar junto e os novos modos de comunicar. E ressalta a
importância
36
MARTIN-BARBERO, Jesús. Ensanchando territórios en comunicación/Educación, in VALDERRAMA,
Carlos. Comunicación & Educación, Bogotá, Universidad Central, 2000, pg. 101-113.
37
MARTIN-BARBERO, Jesús. Ensanchando territórios en comunicación/Educación, in VALDERRAMA,
Carlos. Comunicación & Educación, Bogotá, Universidad Central, 2000, pg. 101-113.
23
24. de que a escola converta-se em um lugar de re-imaginação e recreação do espaço
público. Ou seja, que passe a representar um lugar de conversa entre gerações e entre
jovens que se atrevam a levar à escola suas verdadeiras perguntas e mestres que
queiram escutar, convertendo a escola em um espaço público de memória e invenção
do futuro.
Retomando os estudos de Sousa38, ele discorre exatamente sobre essa mudança
quanto às formas de aprendizagem ocorridas em função das transformações de
paradigmas básicos culturais. Transformações essas influenciadas inclusive pelos
atuais veículos de comunicação, como TV, rádio e internet. Observa-se o que Soares 39
chama de uma demanda social voltada à formação da cidadania, ensino e
aprendizagem.
Sousa40, a partir dos estudos que realiza sobre relações mediáticas e espaço púbico,
aponta que “a cultura não é vista como a dimensão político ideológica, ao contrário, é
resgatada sua autonomia como agente no processo de negociação do poder. A
interação ideológica-política-cultural pode existir e coexistir por força desse
pressuposto de negociação e não como categorias com pressuposto de dominação de
uma sobre outra” (Sousa, 2002, pág.26). Observa-se que esse sujeito da comunicação
ocupa uma posição contraditória, na medida que é negociador e busca significações e
produções incessantes de sentido junto à vida cotidiana. Sousa41 destaca que ele deixa
de ser visto como um mero “consumidor necessário de supérfluos culturais” para
ocupar um papel de produtor cultural também.
Barbero42, porém, alerta que,
“A simples introdução dos meios e das tecnologias na escola pode ser a forma
mais enganosa de ocultar seus problemas de fundo sob a égide da
modernização tecnológica. O desafio é como inserir na escola um ecossistema
comunicativo que contemple ao mesmo tempo: experiências culturais
heterogêneas, o entorno das novas tecnologias da informação e da
38
SOUSA, Mauro Wilton. O lugar social da comunicação mediática. São Paulo: Revista Caminhos da
Educomunicação, NCE – ECA – USP, no. 03, 1999, pág. 21-32.
39
SOARES, Ismar de Oliveira. Comunicação/Educação, a emergência de um novo campo e o perfil de seus
profissionais, in Contato, Brasília, ano I, jan/mar. 1999, pág. 19-74.
40
SOUSA, Mauro Wilton. A recepção sendo reinterpretada. In SOUSA, Mauro Wilton (org.). Recepção
mediática e espaço público: novos olhares. 1a. ed. São Paulo: Paulinas, 2006, pág. 13-26.
41
SOUSA, Mauro Wilton. Recepção e comunicação: a busca do sujeito. In SOUSA, Mauro Wilton. Sujeito,
o lado oculto do receptor. 3a.ed. São Paulo: Brasiliense, 2002, pág. 13 – 38.
42
MARTIN-BARBERO, Jesús. Heredando al futuro. Pensar la Educación desde la Comunicación, in
Nómadas, Bogotá, sepetiembre de 1996, n. 5, pág. 10-22.
24
25. comunicação, além de configurar o espaço educacional como um lugar onde o
processo de aprendizagem conserve seu encanto” (Barbero, 1996).
Especificamente quanto aos processos cognitivos de aprendizagem e a provável
influência mediadora que a cultura do sujeito pode exercer junto a esse processo,
Kaplún43 ressalta que a construção do conhecimento e sua comunicação são “o
resultado de uma interação: abraça-se a organização e a clareza desse conhecimento
ao convertê-lo em um produto comunicável e efetivamente comunicado” (Kaplun,
1999, pág. 74). Em relação aos processos educomunicativos de intervenção social para
a formação da cidadania, ele complementa, dizendo que “para que o educando se sinta
motivado e estimulado a empreender o esforço de intelectualidade que essa tarefa
supõe, necessita destinatários, interlocutores reais: escrever sabendo que vai ser lido,
preparar suas comunicações orais com a expectativa de que será ouvido” (Kaplun,
1999, pág. 74).
E em suas reflexões sobre a existência desse campo, Huergo44 alerta que a escola está
sendo desprezada pelos meios e seu horizonte cultural, e se encontra,
conseqüentemente, em uma profunda crise de hegemonia. Isso sinaliza para um forte
embate da cultura na busca de uma definição de seu significado, o qual reflete uma
multiplicidade de valores, vozes e intenções. A partir dessas constatações, as
investigações sobre a inter-relação (Soares) ou conjugação (Sousa) da
Comunicação/Educação passam a considerar a intensidade das contradições sócio-
culturais e redes de conformismos, reconhecimentos ou oposições que se mostram nas
instituições educativas. E verifica-se que, de fato, a compreensão sócio-cultural
recorreu à semiótica social, ao interacionismo simbólico, à etnometodologia e à
etnografia, como destacado por Huergo45. Ele aponta ainda a questão das
alfabetizações múltiplas, as quais são provocadas pelos meios e pelas novas
tecnologias, na forma de uma “pedagogia perpétua” que excede o controle e a
organização escolar, mas reconhece outras fontes de significação, como a “cultura de
casa” (família) e dos grupos de referência que nela se configuram, e mesmo a cultura
da escola.
43
KAPLÚN, Mario. Processos Educativos e canais de comunicação, in Comunicação e Educação, jan/abr,
1999, pg. 68 a 75.
44
HUERGO, Jorge. Comunicación/Educación: itinerários transversales, in VALDERRAMA, Carlos.
Comunicación & Educación, Bogotá, Universidad Central, 2000, pg. 3-25.
45
HUERGO, Jorge. Comunicación/Educación: itinerários transversales, in VALDERRAMA, Carlos.
Comunicación & Educación, Bogotá, Universidad Central, 2000, pg. 3-25.
25
26. Ao se considerar os projetos educomunicativos como um processo de gestão
comunicacional a ser planejado, contendo objetivos a serem atingidos e estratégias de
ação a serem traçadas, verifica-se a importância de se conhecer de maneira mais
aprofundada as variáveis ou fatores passíveis de influenciar nos resultados finais desse
processo.
E uma das grandes contribuições para a consolidação do campo da Educomunicação e
conseqüente desenvolvimento de uma metodologia básica voltada à concretização
desses projetos passa diretamente pelos estudos desenvolvidos sobre recepção
mediática e espaço público proposto por Sousa46 e sua equipe de pesquisadores e
orientandos. Os resultados das pesquisas realizadas sobre essas temáticas são de
grande importância para os estudos que a equipe do Núcleo de Comunicação e
Educação, no sentido de municiá-los com informações sobre como ocorrem essas
mediações e qual sua influência em vários contextos, para a possível identificação das
ações e tecnologias mais adequadas a cada um dos públicos aos quais se destinam os
projetos educomunicativos. Sempre buscando o objetivo maior dessa metodologia, que
é a formação de cidadãos reflexivos e críticos em relação aos meios de comunicação e
à sociedade.
Finalmente, é importante destacar que esse novo campo que alguns já denominam
como Educomunicação não se resume simplesmente na utilização de veículos de
comunicação de tecnologia avançada na busca por uma simulação e/ou criação de
processos comunicacionais simplesmente estruturalistas. Trata-se de desenvolver uma
metodologia de ensino que traga as mídias para o processo de aprendizagem e que
sinalize uma nova abordagem de ensino, que mostre essa inter-relação e seja efetiva
na formação de cidadãos reflexivos e conscientes quanto ao poder que cada um desses
veículos representa em função de seus próprios espaços, inclusive como espaços
públicos de aprendizagem.
Ou, sob uma visão mais abrangente da sociedade, como diria Lévy47
46
SOUSA, Mauro Wilton et al. Mediações sociais e práticas escolares. In SOUSA, Mauro Wilton. Recepção
Mediática e Espaço Público. 1a ed. São Paulo: Paulus, 2006, pág. 119-140.
47
LÉVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência. 15a. Ed. São Paulo: Editora 34, 2006.
26
27. “Na era do planeta unificado, dos conflitos mundializados, do tempo acelerado,
da informação desdobrada, das mídias triunfantes e da tecnociência multiforme
e onipresente, quem não sente que é o preciso repensar os objetivos e meios
da ação política? A integração plena das escolhas técnicas no processo de
decisão democrática seria um elemento chave a necessária mutação da política.
As sociedades ditas democráticas, se merecem seu nome, têm todo o interesse
em reconhecer nos processos sociotécnicos fatores políticos importantes, e em
compreender que a instituição contemporânea do social se faz tanto nos
organismos científicos e nos departamentos de pesquisa e desenvolvimento das
grandes empresas, quanto no Parlamento ou na rua. Ao lançar o catálogo
eletrônico ou trabalhar as manipulações genéticas, contribui-se da mesma
forma par a forjar a sociedade quanto votando” (Lévy, 2006, pg. 195-196).
Ele ainda finaliza, dizendo:
“Não alimento nenhuma ilusão quanto a um pretenso domínio possível do
progresso técnico, não se trata tanto de dominar ou de prever com exatidão,
mas sim de assumir coletivamente um certo número de escolhas. De tornar-se
responsável, todos juntos. O futuro indeterminado que é o nosso neste fim do
século XX deve ser enfrentado de olhos abertos” (Lévy, 2006, pg. 196).
4) BIBLIOGRAFIA CONSULTADA PARA ELABORAÇÃO DESTE TRABALHO:
ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. A Indústria Cultural – O Iluminismo como
Mistificação de Massa. In, LIMA, Luiz Costa. Teoria da Cultura de Massa. 7a. Ed. São
Paulo: Paz e Terra, 2005.
AGOSTINHO, Bispo de Hipona. Confissões. 10a. Ed. São Paulo: Paulus, 1984.
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede.7a. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003.
FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder – Formação do patronato político brasileiro. 3a.
Ed. São Paulo: Globo, 2000.
FREUD, Sigmund. Mal-Estar da Civilização. Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. 1a. Ed. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. 7a. Ed. Rio de Janeiro:
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HABERMAS, J. Mudança Estrutural da Esfera Pública. 2a. Ed. Rio de Janeiro: Biblioteca
Tempo Brasileiro, 2003.
27
28. HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. 15a. Ed. São Paulo: Vozes/Universidade São
Francisco, 2005.
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KAPLÚN, Mario. Processos educativos e canais de comunicação, in Comunicação e
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LÉVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência – O futuro do pensamento na era da
informática. 15a. ed. São Paulo: Editora 34, 2006, pág. 131.
LYOTARD, JEAN-FRANÇOIS . Condição Pós-Moderna, 2a.ed Lisboa: Gradiva, 1989.
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3a. ed. São Paulo: Brasiliense, 2002.
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hegemonia. 2a. Ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2003.
ROUANET, Paulo Sergio. Mal-Estar na Modernidade. São Paulo: Companhia das Letras,
1993, pg. 96-119.
RUIZ, Castor Bartolomé. Os Paradoxos do Imaginário. 1a. Ed. São Leopoldo/RS:
Unisinos, 2004.
SOARES, Ismar de Oliveira. Comunicação/Educação, a emergência de um novo campo
e o perfil de seus profissionais, in Contato, Brasília, Ano I, N.I, jan/mar, 1999, pg.
19-74.
SOUSA, Mauro Wilton. Recepção Midiática como linguagem de pertencimento: entre o
comum e o público – Uma análise crítica da bibliografia a respeito. Bauru, 2006.
Compós. Grupo de Trabalho.
SOUSA, Mauro Wilton (Org.). Recepção Mediática e Espaço Público: Novos Olhares. 1a.
ed. São Paulo: Paulinas, 2006.
SOUSA, Mauro Wilton. Recepção Mediática: linguagem do pertencimento. São Paulo:
Revista latinoamericana de Ciências de La Comunciación, no. 02, Enero/Junio, 2005.
SOUSA, Mauro Wilton. Novas Linguagens. 2a. ed. São Paulo: Salesiana, 2003.
SOUSA, Mauro Wilton (Org.). Sujeito, o lado oculto do receptor. 3a. ed. São Paulo:
Brasiliense, 2002.
28
29. SOUSA, Mauro Wilton. Práticas de Recepção Mediática como Práticas de Pertencimento
Público. São Paulo: Revista Novos Olhares, ECA – USP, no. 03, 1999.
SOUSA, Mauro Wilton. Recepção e práticas públicas de comunicação. São Paulo, 1997.
Tese. Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo.
SOUSA, Mauro Wilton. O lugar social da comunicação mediática. São Paulo: Revista
Caminhos da Educomunicação, NCE - ECA- USP. Págs 21-32.
SOUSA, Mauro Wilton. Novos olhares sobre as práticas de recepção em Comunicação.
Temas contemporâneos em comunicação.
WILLIAMS, Raymond. Cultura. 2a. Ed. São Paulo: Paz e Terraz, 2000.
5) ORIENTAÇÕES
Formação de novos pesquisadores / Atuação como orientador, por seus
orientandos.
Admirado por seus orientandos, ele estabelece uma relação muito próxima com seus
alunos, ao instigá-los à pesquisa, sempre lembrando-os sobre a importância da
investigação bem feita, detalhada. Talvez pela própria linha de pesquisa que
desenvolve, enfatiza o constante auto-questionamento por seus orientandos, sob
“novos olhares”, de maneira que esses efetivamente se abram à exploração dos textos
estudados para descobertas significativas, que resultem em questionamentos
consistentes para o desenvolvimento de novas linhas de raciocínio e conhecimento
concreto aprofundado do tema. Mais do que um orientador, ele instiga seus orientando
a se assumirem como “seres buscantes”. Sempre.
Orientações em andamento:
Dissertações de Mestrado:
Christian Godoy. Mini tecnologias e comunicação contemporânea. Início: 2006.
Dissertação (mestrado em Ciências da Comunicação) – Universidade de São Paulo
(Orientador).
Guilherme Ranova. Identidade e comunicação em Foucault. Início: 2006. Dissertação
(Mestrado em Ciências da Comunicação) – Universidade de São Paulo. (Orientador)
Tese de Doutorado:
Fernando Scavone. Aspectos Plásticos das imagens em processo digitais. Início: 2002.
Tese (Doutorado em Curso Superior do Audiovisual) – Universidade de São Paulo.
(Orientador)
29
30. Supervisões e Orientações concluídas:
Dissertação de mestrado:
Marcelo Henrique Leite. Imagem virtual e os paradoxos do tempo: a imagem e a
cultura na contemporaneidade. 2006. Dissertação (Mestrado em COMUNICAÇÃO E
ESTÉTICA DO AUDIOVISUAL) - Universidade de São Paulo, . Orientador: Mauro Wilton
de Sousa.
Rafael Luís Pompéia Gioielli. A identidade líquida - a experiência identitária na
contemporaneidade dinâmica. 2005. Dissertação (Mestrado em Ciências da
Comunicação) - Universidade de São Paulo, . Orientador: Mauro Wilton de Sousa.
Eliany Salvatierra Machado. O gosto Cultural de Jovens. Estudo sobre o papel dos
media e dos valores culturais na construção do gosto. 2002. Dissertação (Mestrado em
Ciências da Comunicação) - Universidade de São Paulo, Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Orientador: Mauro Wilton de Sousa.
Elson Faxina. Participação e subjetividade em movimento sociais: um estudo de caso
sobre as práticas culturais contemporâneas como espaço de construção e legitimação
do ser individual e ator social.. 2001. 0 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da
Comunicação) - Universidade de São Paulo, . Orientador: Mauro Wilton de Sousa.
Elide Maria Fogolari. Fazenda Esperança: estudo sobre as mediações culturais e a
recepção da telenovela Terra Nostra. 2001. 0 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da
Comunicação) - Universidade de São Paulo, . Orientador: Mauro Wilton de Sousa.
Helena Corazza. Comunicação e Relacões de Gênero. 1999. 0 f. Dissertação (Mestrado
em Ciências da Comunicação) - Universidade de São Paulo, Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Orientador: Mauro Wilton de Sousa.
Manuel Gustavo Manrique Gianoli. O Torcedor de Futebol e O Espetáculo da
Arquibancada.. 1996. Dissertação (Mestrado em Ciências da Comunicação) -
Universidade de São Paulo, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico. Orientador: Mauro Wilton de Sousa.
Milton Soares de Sousa. Telenovela: O Papel Social do Vilão. Leituras e usos sociais do
vilão no cotidiano de receptores de telenovela. 1996. Dissertação (Mestrado em
Ciências da Comunicação) - Universidade de São Paulo, . Orientador: Mauro Wilton de
Sousa.
Lúcio Sérgio de Oliveira Vilar. Tv e Janela do Cotidiano.. 1995. Dissertação (Mestrado
em Ciências da Comunicação) - Universidade de São Paulo, Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Orientador: Mauro Wilton de Sousa.
Eliana Nery Conde Malta. Telenovela e Receptores: Um Fórum de Debates.. 1994.
Dissertação (Mestrado em Ciências da Comunicação) - Universidade de São Paulo, .
Orientador: Mauro Wilton de Sousa.
Magno L. Medeiros da Silva. A Televisao Invisivel: O Receptor e O Olhar Simbolico.
1991. Dissertação - Escola de Comunicações e Artes, . Orientador: Mauro Wilton de
Sousa.
30
31. Teses de Doutorado:
Rovilson Robbi Britto. Uma leitura da cibercultura a partir dos Estudos Culturais. 2006.
261 f. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) - Universidade de São Paulo, .
Orientador: Mauro Wilton de Sousa.
Ronaldo M Castelhano. Diferença e identidade: sentidos em construção. 2006. 203 f.
Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) - Universidade de São Paulo, .
Orientador: Mauro Wilton de Sousa.
Renato Levi Pahim. Alquimistas do Som. O Experimentalismo na Música Popular
Brasileira. 2002. 174 f. Tese (Doutorado em Curso Superior do Audiovisual) -
Universidade de São Paulo, . Orientador: Mauro Wilton de Sousa.
Luiz Signates. A sombra e o avesso da Luz - Apropriação da teoria dual de sociedade
em Habermas para os estudos contemporâneos de comunicação social. 2001. 0 f. Tese
(Doutorado em Ciências da Comunicação) - Universidade de São Paulo, . Orientador:
Mauro Wilton de Sousa.
Maria Luiza Cardinale Baptista. O Sujeito da Escrita e a Trama Comunicacional. 2000. 0
f. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) - Universidade de São Paulo,
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Orientador: Mauro
Wilton de Sousa.
Lúcio Flávio Spinelli Pinheiro. Contribuições do pensamento psicanalítico de W. R. Bion
para o estudo dos processos sociais de recepção à TV. 2000. 0 f. Tese (Doutorado em
Ciências da Comunicação) - Universidade de São Paulo, Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Orientador: Mauro Wilton de Sousa.
Mario Fernando Gutierrez Olortegui. Televisão, entre o vazio e a sedução. 2000. 0 f.
Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) - Universidade de São Paulo,
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Orientador: Mauro
Wilton de Sousa.
Fernando Jesus Giraldo Salinas. O Som Na Telenovela, Articulações Som e Receptor..
1994. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) - Universidade de São Paulo, .
Orientador: Mauro Wilton de Sousa.
6) PRODUÇÃO LITERÁRIA DE MAURO WILTON DE SOUZA
Artigos publicados em periódicos:
SOUSA, M. W. . Recepção mediática: linguagem de pertencimento. CIENCIAS DE LA
COMUNICACIÓN, São Paulo, v. 02, p. 10-21, 2005.
SOUSA, M. W. . Recepção Televisiva: Mediações Contextuais. Revista da USP, São
Paulo, v. 61, p. 07-15, 2004.
SOUSA, M. W. ; LEITE, Marcelo Henrique ; GIOIELLI, R. L. P. ; MATHIAS, José Ronaldo
Alonso . Mediações e Práticas Escolares. REVISTA NOVOS OLHARES, SÃO PAULO, v.
12, 2003.
31
32. SOUSA, M. W. . O comum mediático e o pertencimento nas práticas de recepção.
REVISTA NOVOS OLHARES, SÃO PAULO, v. 11, 2003.
SOUSA, M. W. . O lugar social da comunicação mediática. Revista Mackenzie
Eduacação Arte E História da Cultura, SÃO PAULO, v. 2, n. 2, p. 111-119, 2002.
SOUSA, M. W. . Práticas de Recepção Mediática: o pertencer ao comum social. Revista
Novos Olhares, São Paulo, v. 3, n. nº 7, p. 47-53, 2001.
SOUSA, M. W. . Práticas de Recepção Mediática como Práticas de Pertencimento
Público. Revista Novos Olhares, São Paulo, n. 03, p. 12-30, 1999.
SOUSA, M. W. . Comunicação e Educação: entre meios e mediações. Cadernos de
Pesquisa da Fundação Carlos Chagas, São Paulo, v. 106, p. 2-26, 1999.
SOUSA, M. W. ; SIGNATES, L. . Bibliografia Comentada: Esfera Pública e Comunicação.
Revista Novos Olhares, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 50-55, 1999.
SOUSA, M. W. . A Recepção sendo reinterpretada. Revista Novos Olhares, São Paulo,
v. 1, n. 1, p. 39-46, 1998.
SOUSA, M. W. . Ficção ou Realidade. Revista Vogue, São Paulo, n. 243, p. 78-82,
1998.
SOUSA, M. W. . Um Novo Modo de Olhar o Cinema. Informativo Summus, São Paulo,
v. 3, n. 11, p. 2-2, 1998.
SOUSA, M. W. . O Lugar Social da TV na Inglaterra. Informativo Summus, São Paulo,
v. 3, n. 11, p. 12-12, 1998.
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SOUSA, M. W. . Juventude e os nossos espaços sociais de construção e negociação de
sentido. Revista Educação e Realidade, Rio Grande do Sul, v. 22, n. 2S/97, p. 47-58,
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SOUSA, M. W. . Quem É o Sujeito da Comunicação?. Revista Interação, SÃO PAULO, v.
12, p. 8-8, 1995.
SOUSA, M. W. . Telenovela Brasileira Na Europa: Uma Internacionalização Em
Processo. Revista Comunicação e Sociedade, São Bernardo do Campo, v. 21, p.
147-167, 1994.
SOUSA, M. W. . Belize - Belindia: Um Genocidio Cultural. PAGINAS ABERTAS, n. 66, p.
11-11, 1991.
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33. SOUSA, M. W. . Igreja e Sociedade: Um Posicionamento Controvertido Quanto Aos
Meios de Comunicação. Revista Simpósios Em Comunicações e Artes, São Paulo, v. 1,
p. 13-23, 1989.
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SOUSA, M. W. . Uma Semana Com Televisao. Ucbc União Católica de Comunicação,
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SOUSA, M. W. . Jovens e A Telenovela de Cada Dia. Revista Aec do Brasil, Rio de
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SOUSA, M. W. . The Soap Opera And Its Mediation In The Urbans Centers. MAIN
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SOUSA, M. W. . Exposicão a Veículos de Comunicação de Massa e Caracteristicas
Aspiracionais de Estudantes Paulistas de nível médio: aspectos de uma experiência de
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231 p.
SOUSA, M. W. . Empresariado Industrial e Imprensa: Questoes de Ontem, Hoje. SAO
PAULO: FGV/SP, 1989. 101 p.
AISSAR, M. ; SOUSA, M. W. . Escola Normal, Hoje?. SAO PAULO: CENAFOR, 1984. 102
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PRESCIVALLE, O. ; SOUSA, M. W. . Experiências e Perspectivas Sobre Escolas de
Produção no Meio Urbano no Brasil. SAO PAULO: CENAFOR, 1982. v. 1. 240 p.
AISSAR, M. ; SOUSA, M. W. ; BORI, C. ; PRANDI, R. ; GUIMARÃES, H. ; PACHECO, R. .
Técnica de Pesquisa Survey - 3 Volumes. SAO PAULO: CENAFOR, 1980. 734 p.
MARIANI, N. ; MARQUES, W. ; SOUSA, M. W. . Mercado de Trabalho Para Profissionais
de Nível Medio - 2 Volumes -. RECIFE: SECRETARIA DE EDUCACAO DE PERNAMBUCO,
1977. 244 p.
SOUSA, M. W. ; BLASI, A. C. . Escolas de Segundo Grau na Área Primária No Brasil:
Estudo Quantitativo e Qualitativo - 4 Volumes -. SAO PAULO: CENAFOR, 1974. v. 1.
422 p.
33
34. Capítulos de livros publicados:
LEITE, Marcelo Henrique ; SOUSA, M. W. ; GIOTELLI, Rafael Luís Pompéia . Práticas de
receção mediática: cultura da imagem e identidade cultural. In: Nilda Jacks; Elisa
Piedras; Rosario Sanchez Vilela. (Org.). O que sabemos sobre audiências? Estudos
latino americanos. 1 ed. Porto Alegre: Armazém Digital, 2006, v. 1, p. -.
SOUSA, M. W. . A recepção sendo reinterpretada. In: Mauro Wilton de Sousa. (Org.).
Recepção mediática e espaço público: novos olhares. 1 ed. São Paulo: Edições
Paulinas; SEPAC, 2006, v. 1, p. 13-26.
LEITE, Marcelo Henrique ; SOUSA, M. W. ; GIOTELLI, Rafael Luís Pompéia ; MATHIAS,
José Ronaldo Alonso . Mediações sociais e práticas escolares. In: Mauro Wilton de
Sousa. (Org.). Recepção mediática e espaço público: novos olhares. ' ed. São Paulo:
Edições Paulinas; SEPAC, 2006, v. 1, p. 119-142.
SOUSA, M. W. . Práticas de recepção mediática como práticas de pertencimento
público. In: Mauro Wilton de Sousa. (Org.). Recepção mediática e espaço público:
novos olhares. 1 ed. São Paulo: Edições Paulinas; SEPAC, 2006, v. 1, p. 215-242.
SOUSA, M. W. . História Empresarial Mediadora do Futuro. In: Paulo Nassar. (Org.).
Memória de Empresa - História e comunicação de mãos dadas a construir o futuro das
organizações. São Paulo: Aberje, 2004, v. 1, p. 89-96.
SOUSA, M. W. . O Lugar Social da Comunicação Mediática. In: Ismar de Oliveira
Soares. (Org.). Cadernos de Educomunicação - Caminhos da Educomunicação. São
Paulo: Editora Salesiana, 2002, v. 1, p. 21-34.
SOUSA, M. W. . Novos Cenários no Estudo da Recepção Mediática. In: Eugênio
Trivinho; Dirceu Fernandes Lopes. (Org.). Sociedade Mediática - Significação,
mediações e exclusão. Santos: Ed. Universitária Leopoldianum, 2000, v. 1, p. 77-89.
SOUSA, M. W. . Modernidade e Pós-Modernidade: o lugar social da Comunicação. In:
Maria Cecília Sanchez Teixeira; Maria do Rosário Silveira Porto. (Org.). Imaginário,
Cultura e Educação. São Paulo: Plêaide, 1999, v. 1, p. 13-.
SOUSA, M. W. . Novos Olhares Sobre Práticas de Recepção em Comunicação. In: Maria
Immacolata Vassalo Lopes. (Org.). TEMAS CONTEMPORÂNEOS EM COMUNICAÇÃO.
SÃO PAULO: EDICOM - INTERCOM, 1997, v. 1, p. 277-289.
SOUSA, M. W. . Recepção e Comunicação: A Busca do Sujeito. In: Mauro Wilton de
Sousa. (Org.). SUJEITO, O LADO OCULTO DO RECEPTOR. SÃO PAULO: BRASILIENSE,
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20 ANOS. SAO PAULO: SEM FRONTEIRAS, 1992, v. , p. 53-97.
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Oliveira Soares. (Org.). O JOVEM E A COMUNICACAO. SAO PAULO: LOYOLA, 1992, v. ,
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PAULO: LOYOLA, 1991, v. , p. 85-111.
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v. 3, p. 20 - 21, 01 maio 2001.
SOUSA, M. W. . Falta Qualidade à Mídia que Chega a Nossa Casa. Jornal O Estado de
São Paulo - Caderno 2/Cultura, São Paulo, v. 1031, p. D6 - D6, 30 jul. 2000.
SOUSA, M. W. . Com os Eletrônicos, a Liberdade de Ser e Estar. Jornal da Tarde -
Caderno de Sábado, São Paulo, v. 10.780, p. 6 - 6, 26 fev. 2000.
SOUSA, M. W. . Euforia Estimulada por Ilusões. O Popular - Caderno 2, Goiânia -
Goiás, p. 1 - 1, 26 dez. 1999.
SOUSA, M. W. . Dramaturgia e Vídeo Pastoral. Revista Interação, São Paulo, v. 1, p. 6
- 7, 01 dez. 1999.
SOUSA, M. W. . Os Aparelhos que Tiram as Pessoas do Sério. Jornal da Tarde -
Caderno Variedades, São Paulo - SP, p. 1C - 1C, 24 ago. 1999.
SOUSA, M. W. . A Verdadeira Paixão Nacional. Jornal da USP, São Paulo, v. 434, p. 6 -
7, 08 jun. 1998.
SOUSA, M. W. ; FAERMAN, M. . Ficção ou Realidade (Depoimento). Revista Vogue, São
Paulo, v. 243, p. 78 - 83, 01 mar. 1998.
SOUSA, M. W. ; PINTO, P. . Quem Tem Medo do Poder da Televisão. A Gazeta, Cuiabá
- Mato Grosso, p. 4A - 4A, 31 mar. 1997.
SOUSA, M. W. . Quem é o sujeito da Comunicação. Jornal Deadline, São Paulo, v. 12,
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7) ANEXO 1: Íntegra da entrevista com o Prof. Dr. Mauro Wilton, realizada
por Maria Izabel Leão e Luci Ferraz de Mello, em Junho/2006.
ENTREVISTA COM MAURO WILTON
Qual o seu envolvimento como pesquisador no tema comunicação
educação?
Objetivamente colocado, no tempo da ECA, onde sou professor desde 1978,
mas de uma forma mais imediata, mais objetiva, nos últimos 10 anos talvez. Temos
trabalhado um pouco mais a relação da comunicação com a educação a partir, do
próprio recorte que eu tenho tentado aprofundar que é a área exatamente da
recepção. Então ao trabalhar o processo da recepção, entramos necessariamente nas
mediações que fundamentam a recepção, uma dessas mediações é exatamente o
processo educacional. Nesse sentido, como objeto de estudo, a preocupação imediata
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